Desvendando a Decisão: O Que Realmente Está em Jogo?

Na última sexta-feira, 16 de setembro, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito dos Estados Unidos, diminuindo a classificação de AAA para AA1. Esta decisão, que encerra mais de 100 anos de reconhecimento da solidez financeira do país, causou reações imediatas nos mercados. As taxas de juros dos títulos americanos subiram, e os ativos dos EUA apresentaram perdas significativas no after market.

A mudança na classificação reflete preocupações com a deterioração das finanças públicas dos EUA, especialmente em relação ao crescimento da dívida nacional. A Moody’s prevê que a relação dívida/PIB, que é atualmente de 98%, deve aumentar para 134% até 2035. Além disso, o déficit anual pode saltar de 6,4% para quase 9% do PIB nesse mesmo período. Outro ponto alarmante é que, até 2035, os pagamentos de juros poderão consumir 30% da arrecadação federal, um aumento relevante em comparação com os 18% atuais.

Scott Bessent, um alto funcionário do Tesouro dos EUA, já havia expressado preocupações sobre a situação da dívida, alertando que a combinação de déficits crescentes e aumento nos juros poderia levar a uma crise econômica significativa.

A resposta do governo à decisão da Moody’s foi adamantemente defensiva. Um porta-voz da Casa Branca criticou o economista responsável pela análise, alegando que suas opiniões não eram confiáveis. No entanto, a Moody’s destacou que a reclassificação resultou de anos de crescimento na dívida e aumento nos custos de juros, e não de uma administração específica.

A agência também atribuiu a decisão à incapacidade dos governos, tanto passados quanto presentes, de formular soluções eficazes para o problema do déficit fiscal. Desde há muito tempo, mudanças significativas nas políticas fiscais não têm sido implementadas, permitindo a continuidade de déficits e custos crescentes.

Embora a Moody’s não atribua diretamente o rebaixamento à administração anterior, a situação foi agravada pela paralisação política, com o Congresso não conseguindo chegar a um consenso sobre ações que pudessem melhorar a sustentabilidade fiscal do país. Recentemente, um projeto de cortes de impostos proposto pelo ex-presidente Trump foi rejeitado por integrantes de seu próprio partido, o que poderia ter ampliado ainda mais a dívida.

A Moody’s é a última de uma série de agências a reavaliar a classificação dos EUA. A S&P Global fez o mesmo em 2011, seguida pela Fitch em agosto deste ano. Apesar do rebaixamento, a Moody’s manteve uma perspectiva estável para a nova classificação, ressaltando a resiliência da economia americana e a força do dólar como moeda de reserva mundial.

Do ponto de vista do mercado, a redução na nota serve como um alerta sobre a capacidade dos EUA de manter seu status como emissor de dívida em dólar atrativo. A Moody’s enfatizou que, apesar de algumas vantagens estruturais, a saúde fiscal está em um caminho de deterioração.

No curto prazo, a mudança na classificação pode aumentar os custos de financiamento do governo, refletidos em um crescimento nos rendimentos dos títulos a 10 anos, que alcançaram 4,49%. O ETF do S&P 500 também teve uma queda de 0,6% no after market. No entanto, a longo prazo, a reavaliação pode levar os investidores a exigir retornos mais altos para financiar a dívida do governo, especialmente se a deterioração das finanças públicas continuar.

Embora o sentimento geral seja de preocupação, alguns economistas acreditam que o impacto no mercado pode ser limitado. Um especialista da Allianz afirmou que, apesar da classificação histórica e da atenção que chamará, há a possibilidade de que as consequências sejam menores do que o esperado.

Essa mudança representa um capítulo significativo na história da classificação de crédito dos EUA e levanta questões sobre a sustentabilidade fiscal do país em um futuro próximo.

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