
Surpreendente: A Política de Trump Pode Ter Efeitos Inesperados, Afirma Especialista Samuel Pessôa!
Entrevista com Samuel Pessôa: A Política Tarifária de Trump e o Futuro da Globalização
Samuel Pessôa, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), oferece uma análise detalhada das políticas tarifárias do presidente americano Donald Trump e suas implicações sobre a economia global e o Brasil.
Pessôa critica as tarifas impostas por Trump, classificando-as como uma medida "antiquada". Segundo ele, utilizar tarifas como forma de arrecadação é uma estratégia que não se alinha aos avanços tecnológicos e às mudanças na dinâmica do comércio global. Ele enfatiza que, embora a perda de empregos para a China tenha sido significativa, muitos desses postos foram substituídos por tecnologias mais avançadas. "Estamos falando de progresso tecnológico, e não de comércio", destaca.
Recentemente, Trump anunciou uma pausa na implementação de tarifas recíprocas por 90 dias, ao mesmo tempo em que elevou a taxa de importação de produtos chineses para 125%. Pessôa observa que essa decisão pode ter um efeito colateral positivo, forçando a China a investir mais no bem-estar social e a estimular o consumo interno, uma necessidade diante da dependência da China em suas exportações.
Durante uma entrevista, Pessôa expressou suas visões sobre várias questões contemporâneas:
Avaliação das Tarifas:
Pessôa acredita que Trump percebeu estar se isolando ao aplicar tarifas universalmente, especialmente em relação à China, que possui o maior superávit comercial com os EUA e uma taxa de poupança elevada. Ele sugere que a estratégia de Trump está se aproximando da que adotou em seu primeiro mandato, focando na concorrência com a China como o principal desafio.
O Fim da Globalização?
Embora Pessôa não descarta a possibilidade de que este seja o fim da era da globalização, ele considera que ainda é cedo para fazer essa afirmação. O mundo já passou por ciclos de globalização e desglobalização, e esse fenômeno pode se repetir. Ele menciona que historicamente, a globalização liderada pelo Reino Unido terminou com a Primeira Guerra Mundial, e a recuperação do comércio mundial levou décadas.
Impactos para o Brasil:
Em um cenário global negativo, Pessôa acredita que o Brasil pode não ser tão afetado quanto outras nações, devido ao seu posicionamento distante das cadeias globais de valor. No entanto, ele ressalta que essa opção traz um custo em termos de produtividade e bem-estar social. "Nossa qualidade de vida vai se deteriorar, mas seremos menos impactados em comparação com outros países", conclui.
Viabilidade da Reindustrialização:
Pessôa discorda da viabilidade das políticas tarifárias de Trump para reindustrializar os Estados Unidos. Ele acusa a estratégia de ser antiquada e afirma que a competitividade americana não é com a indústria chinesa, mas sim com inovações e serviços do Vale do Silício. A verdadeira força da economia americana reside em suas indústrias avançadas e em sua capacidade de inovar.
Possibilidade de Conflitos Comerciais:
Pessôa aponta a possibilidade de outras nações se unirem contra as práticas comerciais da China, considerando que, se a China inundar o mercado com produtos, isso pode levar a uma guerra comercial. Ele indica que a China precisa aumentar seu consumo interno, o que exige um investimento em medidas de bem-estar social, algo que atualmente é baixo no país.
A Posição dos EUA Como Porto Seguro:
A entrevista também aborda a percepção de que os EUA perderam sua posição como "porto seguro" para investidores. Pessôa argumenta que a instabilidade na política econômica americana e a impressão de amadorismo entre os economistas do governo atual podem estar minando essa confiança. Ele admite que o estilo de governança atual, marcado por ordens executivas e constantes conflitos jurídicos, não favorece a estabilidade necessária para atrair investimentos.
Em resumo, enquanto muitos veem a política tarifária de Trump como uma tentativa de reverter tendências econômicas, Pessôa destaca que a adaptabilidade e inovação são fundamentais para o futuro do comércio global e da economia americana. O desafio, segundo ele, é encontrar um equilíbrio que permita a prosperidade econômica sem recorrer a medidas que podem ser prejudiciais a longo prazo.